Há três semanas tive que me isolar em minha própria casa e
ficar distante de todos aqueles que amo para me tratar. Antes disso, veio a
negação, no domingo (17/05), para mim, seria ressaca das “lives” que tinha assistido
no sábado, na segunda-feira, seria o cansaço, estava pegando pesado no trabalho
e tinha sido um dia estressante. Bem lá no fundo, você não acredita que a doença
vai bater na sua porta.
Na terça-feira à tarde, minha tia, a qual tinha tido contato
direto foi confirmada. À noite, perdi o olfato e o paladar , a ficha caiu,
separei imediatamente tudo e me isolei no quarto. Começa então a fase do lixo
humano. É assim mesmo que você se sente. Você pensa: “Pra quem eu posso ter
transmitido? Transmiti para os meus pais, para os meus amigos, para meus
colegas de trabalho? E se alguém que eu tiver transmitido, morrer? Sai, ninguém
vem perto do meu quarto! A partir de agora todos em isolamento!”.
Dos sintomas, senti praticamente tudo, (tosse seca por um
breve período, corpo febril, cansaço, desconfortos no corpo, garganta irritada,
nariz entupido, diarreia, dor de cabeça, perda de olfato e paladar, erupção
cutânea na pálpebra, choques no peito, dificuldade para respirar e a tão
temível falta de ar). Graças à Deus não precisei ser hospitalizado.
Não foi fácil. Tinha momento em que faltava chão, a mudança repentina
de sintomas desestabiliza emocionalmente. Diariamente somos inundados por
notícias de pessoas jovens, sem comorbidades aparentes, que tiveram a morte
como desfecho, o que assusta, causa angústia, dá medo. Pensava todo tempo nos meus
pais. Pensava: “Se eu morrer eu deixei alguns prazos para fazer... e agora?”, “o
que eu poderia ter feito na vida e não fiz?”.
Ninguém engana o próprio travesseiro, passava o dia falando
que estava tudo bem e estava vencendo, mas à noite a insegurança e impotência
recai sobre suas costas. Vivi um processo comigo. Mas quando a avalanche
emocional tentava me derrubar, a fé e a esperança prevaleceram. Mergulhei em
oração pedindo a cada noite para acordar melhor, vivo e na prece de que queria ser
um doador de sangue. Foram dias difíceis; mas também foram dias de superação,
coragem e fé! Dias que ficarão na memória e no coração.
Nossa Senhora jamais largou minha mão e disse que estaria na
frente da batalha comigo e lembrou que: "Tenho-vos dito isto, para que em
mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, coragem, eu venci o mundo”. (João 16,33)
Durante o isolamento, apesar de ter ficado fechado no meu quarto,
toda família encontrou dificuldades em se proteger do contágio, mesmo tomando
todos os cuidados recomendados. Podemos imaginar quão mais difícil ainda é para
as famílias menos favorecidas.
Infelizmente no meu décimo sétimo dia de isolamento obrigatório,
foi confirmado a infecção deles, no entanto estão apresentando formas muito
menos agressivas do que a minha e meu Pai que é hipertenso e idoso, está
assintomático, sou muito grato a Deus por isso.
Hoje comemorei o fim do isolamento obrigatório na liberdade
de ver o sol e acordado sonhei em voar, sentindo o vento no rosto, mas também corri
no barbeiro kkkk
Durante todos os dias, pude contar com a ajuda e o estímulo
dos amigos e familiares, através de telefonemas, mensagens no whatsapp e
videochamadas, agradeço cada mensagem de apoio, carinho, demonstrações de afeto
e solidariedade. A esperança e a fé me fortalecerem muito no período de
incertezas, principalmente do ápice da doença.
Peço responsabilidade e alteridade no “novo normal” que
virá, peço que mesmo com as atividades restabelecidas, possamos ter compaixão e
empatia com os profissionais de saúde que tem deixado suas famílias para cuidar
do próximo, duplicando os cuidados.
Temos todas as ferramentas para vencer esta batalha, a gestão
municipal e do município de referência tem se esforçado diuturnamente para isso.
Esforços do mundo inteiro estão sendo unidos para encontrar o tratamento
padronizado e respaldado na ciência contra a infecção em curso. Não queremos
que ninguém parta sem o direito de adeus, sem o abraço que tanto cura, sem o
beijo que sara. Façamos a nossa parte! Eu não quero perder você!
Tenho fé em Deus que em breve mais uma vez celebrarei a vida,
louvando ao Senhor pelas graças e por minha família e meus amigos terem
ultrapassado essa guerra incólumes. Que Nossa Senhora do Perpétuo Socorro livre
a nossa “Esperança” de mais uma pandemia com o menor número de perdas possível.
Que a humanidade saia fortalecida e preparada para os bons tempos vindouros.
Venceremos! Agradeço a Deus pelo dom maravilhoso da vida,
pelo vento no rosto, pelo sol quente, pelo cheiro de chuva, pelo sabor das
frutas, agradeço a minha família, ao lar que tenho em casa, aos meus amigos e
os profissionais de saúde.
“Porque Ele vive, posso crer no amanhã.”
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